terça-feira, 18 de dezembro de 2007

DO SALÃO AO LIVRO...DO LIVRO AO SALÃO


Lugar: salão de beleza.

Quando: uma segunda-feira.

Lava cabelo dali, seca de cá e quando dou por mim, assistia à novela das oito. Coisa, aliás, que não fazia há muito tempo.

Graças à Deus.

Por que fiquei realmente chocada.

Assistir a novela das oito, em plena segunda-feira em um salão de beleza foi uma experiência marcante.

Todos sabem os nomes dos personagens, quem fala de quem, quem faz o que...

Pensei...

Fiquei o ano inteiro sentada em uma carteira de universidade, tentando descobrir maneiras de mudar o mundo, mirabolando maneiras para descobrir como ler três livros em dois dias, tentar descobrir a medíocre diferença entre uma semente transgênica de um grão transgênico, ler pencas de notícias para tentar entender o mundo islâmico, descobri, tentar, pensar, ler,.....pra descobrir que ninguém está nem aí......preferem a novela das oito. Não dava pra conversar sobre outras coisas?

Já que é um tempo ocioso, tedioso, diria, não dava pra ter outra pauta?

O que faz uma pessoa perder tempo em assistir tal mediocridade? Lembrei-me que pelas primeiras vezes que entrei em um metrô em Milão e vi quatro entre cinco pessoas lerem o jornal. Tirei até uma foto disso, dá pra acreditar?

Devorei praticamente um livro inteiro enquanto fazia as madeixas naquela porcaria de segunda-feira. Duas horas antes havia lido a Folha de S.Paulo de segunda-feira na fila do banco. Coisa que, aliás, pareceu até mesmo uma ofensa:

-Tira esse jornal daqui!!! Esbravejou a menina que estava na minha frente na fila.

Não sei se ria ou se chorava.

Uma vez quando estava de pé no ônibus, ralhei os olhos no jornal de um tiosinho que estava sentado. Sem ter o que fazer né? Jornalão na frente. Ele indignado disse:

-Já terminei a POR-RA do jornal. Quer pra você?

Eu disse:

- POR-RA, eu que quero.

Meus amigos caíram na gargalhada. Não sei se por causa dos “POR-RA” ou por causa da atitude do tiosinho. Enfim....

Ele retrucou:

- Menina mal educada. E se levantou pra saltar do ônibus.

Mas, se ele já havia lido por que não me emprestar? O que ele queria que eu comprasse um jornal só pra mim?

Emprestar livros, já desisti. Ou em empresto sabendo que nunca mais vou vê-lo ou não empresto. Na melhor das hipóteses, quando ele é devolvido, está destruído. (entenda-se destruído por melecado, cheio de orelhas de burro). Nossa, cadê o respeito com as coisas dos outros.

Lembro-me que uma vez meu colega de discussões em sala Guilherme Guinski havia me emprestado um livro pra ler assim na hora da aula mesmo. Só dar aquela olhadinha. Lembro-me de ter colocado o lviro aberto por alguns segundos em cima da mesa. Ele olhou pra mim:

- Que c tá fazendo?

- Não to fazendo nada? Como assim?

-O meu livroooooooooo !!!!!!!!!

Com toda razão. Por um lapso, deixei o livro aberto. Poxa, livro é amigo, é companheiro, não dá pra largar assim né? Principalmente quando é dos outros. Minha mãe sempre falava que o que é dos outros, devemos ter cuidado dobrado. Com toda a razão. Acho que a minha era uma exceção.

Como não estava assistindo à novela, chamava um pouco a atenção. Alguém se atreve:

- Ah, eu também adoro ler.

Tentei, para arrependimento futuro, estabelecer contato.

- Ah é? Que tipo de livro você gosta?

Silêncio.

- Ah não tenho muito tempo pra ler, mas sei lá... Adorei aquele “Homens são de Vênus e Mulheres são de Marte”.

Tudo bem. Gosto não se discute. Se lamenta.

A voz, continua:

-C já assistiu “O Segredo?”...

Graças à Deus meu tempo no precioso salão de beleza havia se esgotado. Não respondi, mas é óbvio que assisti “O Segredo”. Para poder falar mal depois.

Leitura no Brasil é mesmo uma vergonha.

2 comentários:

Isabela Ferreira Sperandio sx disse...

quebrou tudo
e adorei
x

Rafaelle Mendes disse...

UHAuhauha POR-RA, Lara... ficou muito bom isso heim?! Relaxa amiga... um dia quem sabe a gente tenha um país de leitores ao invés de noveleiros! beijoka