quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

É FAN-TÁS-TI-CO....TCHAN.....


Se alguém lhe perguntasse para pensar no homem mais fantástico do mundo, quem viria a sua mente?

Talvez alguém espiritualizado como Mahatma Gandhi, alguém como Fred Astaire. Alguns pensariam Hugh Hefner. Convenhamos o cara tem 81 anos e três divas na cama de plantão. Isso é fantástico. Ou quem sabe, você pensaria em alguém mais próximo, quem sabe seu pai, seu marido, seu filho.

Acho que talvez o último da sua lista seria ele: Chuck Norris. Mas ele é o único que teve a sorte (ou azar) de ter um livro com o seu nome na capa ligado ao adjetivo fantástico.

O ator de "Comando Delta" e "Braddock - O Supercomando" virou publicação da Penguin intitulada "The Truth About Chuck Norris: 400 facts about the World's Greatest Human" ("A Verdade Sobre Chuck Norris: 400 Fatos Sobre o Ser Humano Mais Fantástico do Mundo").

Quem não gostou muito foi o próprio Mr. Norris que está processando a editora. Para Mr. Norris a obra explora injustamente seu nome e se baseia em uma lista que circula na internet com mitos sobre o ator.

Se você curte assuntos banais e cultura inútil, não deixe de entrar no site para acreditar nesta baboseira.

www.truthaboutchuck.com

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

DO SALÃO AO LIVRO...DO LIVRO AO SALÃO


Lugar: salão de beleza.

Quando: uma segunda-feira.

Lava cabelo dali, seca de cá e quando dou por mim, assistia à novela das oito. Coisa, aliás, que não fazia há muito tempo.

Graças à Deus.

Por que fiquei realmente chocada.

Assistir a novela das oito, em plena segunda-feira em um salão de beleza foi uma experiência marcante.

Todos sabem os nomes dos personagens, quem fala de quem, quem faz o que...

Pensei...

Fiquei o ano inteiro sentada em uma carteira de universidade, tentando descobrir maneiras de mudar o mundo, mirabolando maneiras para descobrir como ler três livros em dois dias, tentar descobrir a medíocre diferença entre uma semente transgênica de um grão transgênico, ler pencas de notícias para tentar entender o mundo islâmico, descobri, tentar, pensar, ler,.....pra descobrir que ninguém está nem aí......preferem a novela das oito. Não dava pra conversar sobre outras coisas?

Já que é um tempo ocioso, tedioso, diria, não dava pra ter outra pauta?

O que faz uma pessoa perder tempo em assistir tal mediocridade? Lembrei-me que pelas primeiras vezes que entrei em um metrô em Milão e vi quatro entre cinco pessoas lerem o jornal. Tirei até uma foto disso, dá pra acreditar?

Devorei praticamente um livro inteiro enquanto fazia as madeixas naquela porcaria de segunda-feira. Duas horas antes havia lido a Folha de S.Paulo de segunda-feira na fila do banco. Coisa que, aliás, pareceu até mesmo uma ofensa:

-Tira esse jornal daqui!!! Esbravejou a menina que estava na minha frente na fila.

Não sei se ria ou se chorava.

Uma vez quando estava de pé no ônibus, ralhei os olhos no jornal de um tiosinho que estava sentado. Sem ter o que fazer né? Jornalão na frente. Ele indignado disse:

-Já terminei a POR-RA do jornal. Quer pra você?

Eu disse:

- POR-RA, eu que quero.

Meus amigos caíram na gargalhada. Não sei se por causa dos “POR-RA” ou por causa da atitude do tiosinho. Enfim....

Ele retrucou:

- Menina mal educada. E se levantou pra saltar do ônibus.

Mas, se ele já havia lido por que não me emprestar? O que ele queria que eu comprasse um jornal só pra mim?

Emprestar livros, já desisti. Ou em empresto sabendo que nunca mais vou vê-lo ou não empresto. Na melhor das hipóteses, quando ele é devolvido, está destruído. (entenda-se destruído por melecado, cheio de orelhas de burro). Nossa, cadê o respeito com as coisas dos outros.

Lembro-me que uma vez meu colega de discussões em sala Guilherme Guinski havia me emprestado um livro pra ler assim na hora da aula mesmo. Só dar aquela olhadinha. Lembro-me de ter colocado o lviro aberto por alguns segundos em cima da mesa. Ele olhou pra mim:

- Que c tá fazendo?

- Não to fazendo nada? Como assim?

-O meu livroooooooooo !!!!!!!!!

Com toda razão. Por um lapso, deixei o livro aberto. Poxa, livro é amigo, é companheiro, não dá pra largar assim né? Principalmente quando é dos outros. Minha mãe sempre falava que o que é dos outros, devemos ter cuidado dobrado. Com toda a razão. Acho que a minha era uma exceção.

Como não estava assistindo à novela, chamava um pouco a atenção. Alguém se atreve:

- Ah, eu também adoro ler.

Tentei, para arrependimento futuro, estabelecer contato.

- Ah é? Que tipo de livro você gosta?

Silêncio.

- Ah não tenho muito tempo pra ler, mas sei lá... Adorei aquele “Homens são de Vênus e Mulheres são de Marte”.

Tudo bem. Gosto não se discute. Se lamenta.

A voz, continua:

-C já assistiu “O Segredo?”...

Graças à Deus meu tempo no precioso salão de beleza havia se esgotado. Não respondi, mas é óbvio que assisti “O Segredo”. Para poder falar mal depois.

Leitura no Brasil é mesmo uma vergonha.

NÃO SOMOS RACISTAS


Certo dia, meu filho (na época com três anos de idade) chegou da escola e nos disse que a “tia” que estava cuidando dele tinha mudado. Agora, era outra. Uma tia diferente.

Naquela época me questionei sobre o quê aquele “diferente” significava, não obtive resposta. Claro, apesar de ele aos cinco ter perguntado o que era ética e quem foi o primeiro, mas o primeiro mesmo, ser humano que existiu na face da terra, seria demais pedir para que ele explicasse, aos três, o que “diferente” significava.

Fiz o que toda mãe faria (bom, pelo menos as curiosas). Cheguei de mansinho na escola e perguntei quem era a nova “tia” que estava cuidando da turma dele.

Era a fulana de tal. Era uma negra.

“Que raios”, pensei. Sou uma mulher liberal, uma mulher moderna, não me considero racista, nunca demonstrei (pelo menos não que ache) sentimentos racistas contra um ser humano e meu filho, tão pequeno, tão virgem do mundo, já analisava aquilo como uma diferença.

Sempre defendi a idéia de que não somos racistas e de não passávamos de uma nação elitista. Até que um dia, graças às maravilhosas aulas da socióloga, Mestre Simone Meucci, dei-me conta de que precisava analisar melhor todas essas idéias.

Falar de racismo é complexo, não é fácil, além de ser simplesmente desgastante. Li “Não somos racistas” de Ali Kamel, pesquisei Gilberto Freyre, reli as matérias da Folha de S. Paulo nos dias da consciência negra, enfim....fiz o que considero o básico do básico. Claro, isso inclui o deus google e teses de mestrado e doutorado espalhadas pelos sites acadêmicos.

Porém, dei-me conta de que o essencial, não havia feito: Perguntar aos próprios negros. E quando digo negros, não me refiro aos 2% do que o IBGE considera negro, mas sim as pessoas que nós consideramos negras.

- Aquilo que pro europeu seria negro e o que para nós é o mulato, o cafuzo, o caboclo e todas aquelas palhaçadas que estudamos no colegial. Aqui, negro é negro, exalta-se o carrinheiro que considera poder estar no Guiness Book por fazer em um só dia R$ 250,00 reais, vendendo recicláveis.

Esqueci os livros, as teses e fui pra rua, pros botecos. Onde achar negros para darem depoimentos? Nas universidades? Atrás de uma mesa com uma placa indicando “diretor-executivo”? Não, Não achei.

Em toda minha vida estudantil e acadêmica (lá se vão pelo menos 15 anos) tive um, apenas UM professor negro que foi demitido após dois anos de aula. Para não dizer nunca, tive apenas um amigo na escola que era negro. Adivinhem seu apelido? Negão. Na universidade, estudei com UM negro. Onde eles estão? Trabalham aonde? Em todo o bairro onde moro há apenas uma família negra. A não ser se considerarmos a favela que fica atrás da minha casa. Lá está cheio de negros. Por quê?

Enfim, deles, escutei histórias assombrosas. Mulheres que são perseguidas por sua cor, mães negras que têm filhos claros e são chamadas de babá, homens que são perseguidos em supermercados e lojas de departamento pela sua cor. Bom, pelo menos é isso que alegaram a totalidade dos “negros” com que falei.

Devemos levar em consideração, obviamente, o estigma. Podem ter alegado justamente racismo por ser simplesmente uma desculpa, uma saída mais viável, talvez. É mais fácil falar que foi por racismo do que por incompetência, por falta de provas, por qualquer outra razão. Seria o momento “diz-que-me-diz-que”.

Mas não creio nestas hipóteses. Não ao lembrar das caras indignadas das pessoas com quem falei. Rostos de ressentimento e rancor.

Acho que da maioria das histórias que escutei (e não foram poucas), muitas declararam que ao ter de escolher quem é o ladrão ou quem foi o culpado, é mais fácil os outros (normalmente, o patrão) acharem que foi o moreninho ou a negrinha. Uso estes termos, por que foram justamente estes termos usados por eles mesmos ao retratarem suas próprias histórias.

Não penso em chegar a uma conclusão, longe disso. Penso em reflexão, pois senti totalitarismo ao ouvir estes depoimentos. Senti, ao escutar essas histórias como se estivesse trafegando no mundo islâmico. No totalitarismo islâmico. Não aceitamos o que é diferente? Aceitamos racionalmente o diferente? Não aceitamos a história? ....Tão mal a conhecemos.

E meu filho, tão pouco sabia que ser diferente é normal.